segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

Doces



Os piores venenos são os doces
Os amargos não escondem o que são, só os toma quem quer morrer
Dos azedos se bebe um pouco todo dia, e não matam ninguém
Salgados, se existem, são inofensivos


Os piores venenos são doces, e bem doces
Falam com vozes de ternura, piscam com olhos de meiguice
Desenham rótulos de flores nas garrafas de vidro colorido
Se deixam tomar suaves e acariciam a garganta


Os piores venenos são com certeza doces
Não são como os outros, bandidos, que arrancam as coisas
Não precisam roubar: há quem mate e quem morra por eles
Cedo ou tarde ganham o que desejam em bandejas de prata


Os piores venenos deixam na boca um gosto doce
A quantos já não submeteram com seus caprichos?
Quantos já não se enredaram na sua teia de mentiras?
Ah, mas uma mentira vinda deles soa mil vezes bela...


Os piores, mais cruéis venenenos são doces
O que mata não é tê-los bebido, mas não poder mais bebê-los
Com o mesmo sorriso com que seduzem, eles um dia desprezam
Vão embora e continuam doces, inalterados, insensíveis


Há quem culpe o amargo, o azedo da vida de matar os homens
Mas acontece que os piores venenos são os doces


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